Cerca de 5 milhões de brasileiros são acometidos por alguma forma da doença, que deverá ter crescimento alarmante devido ao aumento da expectativa de vida da população
Há dois anos, o Instituto da Visão da UNIFESP está realizando estudos com uma técnica de radioterapia intra-ocular para tratamento da Maculopatia Relacionada à Idade (MRI), uma das principais causas de perda da visão em pacientes acima de 55 anos. Como MRI se torna mais comum à medida em as pessoas envelhecem, a doença deverá ter um crescimento alarmante devido ao aumento da expectativa de vida da população, tornando-se um problema de saúde pública. Só no Brasil são estimados 100 mil novos casos da doença a cada ano. Atualmente, estima-se que cerca de 5 milhões de brasileiros são acometidos por alguma forma da doença, que apresenta-se com duas manifestações: seca ou atrófica e úmida ou exudativa.
A doença é conhecida desde 1901, quando foi descrita pela primeira vez, mas até há cerca de 10 anos não existia tratamento que controlasse sua evolução. O único tratamento que existia a partir da década de 90 era a fotocoagulação com raio laser que, apesar de na maioria dos casos causar uma piora inicial, tinha resultados melhores do que a evolução natural da doença. Desde essa época a UNIFESP sempre se empenhou no combate à doença e na elaboração de novos tratamentos, sendo precursora nessa área de pesquisa no Brasil. Tanto que é responsável pela realização da primeira pesquisa com terapia fotodinâmica da América do Sul – onde o tratamento ainda é utilizado – e pelo desenvolvimento pioneiro de um novo tratamento denominado Fototrombose com indocianina verde, desde a sua fase experimental até a aplicação clínica. Essa terapia foi amplamente difundida na América Central e do Sul, por ser de menor custo e resultados comparáveis aos tratamentos realizados na época comenta o Prof. Michel Farah, primeiro coordenador dessas pesquisas no Brasil.
Com o surgimento de novas propostas terapêuticas, o Instituto da Visão da UNIFESP tornou-se o centro de pesquisa que mais incluiu pacientes nos protocolos científicos realizados com utilização de injeções de anti-angiogênicos ( substâncias que impendem o crescimento de vasos anormais na mácula, administrados por meio de injeção intra ou peri-ocular), como o Retanne ( nome científico Anecortave), Macugem ( pegactanibe) e Lucentis ( ranibizumaBE) e Avastin ( Bevacizumabe), num total de cerca de mil pacientes, com muitos resultados promissores no controle da evolução da doença. Com os novos tratamentos e novas pesquisas cerca de 40% dos pacientes apresentaram melhora relativa da visão central, ou seja, capacidade de detectar formas e cores, inclusive de letras e números, o que pode facilitar a leitura, tão importante nessa idade. Além desses, milhares de pacientes receberam tratamento clínico para a doença no setor de Retina e Vítreo do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP. No entanto, ocorrem variações individuais nas respostas terapêuticas.
O restante dos pacientes geralmente apresenta estabilidade ou eventualmente piora, porém menor do que se não fossem submetidos ao tratamento. Apesar de nem sempre se conseguir a recuperação da visão, é possível controlar a evolução da doença nas maioria dos casos. Exceções existem, principalmente quando os pacientes apresentam o problema há muito, sem tratamento. Daí a importância do diagnóstico precoce, que possibilita melhor prognóstico.
SINAIS SUGESTIVOS DA MRI
O paciente deve desconfiar que sua visão não está perfeita quando, ao comparar a visão de um olho com a do outro, notar embaçamento, perda de detalhes e distorção das imagens. Uma linha reta, por exemplo, pode parecer ondulada. Sinais como esses devem ser investigados por um oftalmologista, já que outras doenças da Mácula podem apresentar sintomas semelhantes.
TRATAMENTO COM RADIOTERAPIA
Segundo o Dr. Michel Farah, investigador principal da maioria desses estudos na UNIFESP, “o tratamento com uso de radioterapia intra-ocular já foi utilizado em 22 pacientes do Instituto da Visão, completando o número necessário para análise”. Ele explica que nessa fase inicial o tratamento é realizado por meio de uma micro-cirurgia, em que se aplica um isótopo de estrôncio-90 ( substância radioativa), por cerca de quatro minutos, na lesão macular. O procedimento completo dura cerca de 30 minutos, com a participação da equipe de Oftalmologia e Radioterapia do Hospital São Paulo ( físicos nucleares e médicos).
A primeira fase do estudo utilizou apenas a radioterapia intra-ocular, enquanto na segunda fase foi associado o uso de Avastin intra-ocular, com a expectativa de se diminuir a necessidade de reaplicações e injeções intra-oculares, que muitas vezes tornam o tratamento exaustivo e oneroso. Dr. Michel Farah salienta “os resultados desses estudos são preliminares, sem nenhuma conclusão definitiva até o momento. Para isso precisamos avaliar todos os participantes após um ano de tratamento e até o momento somente a metade do grupo completou esse período”, pondera.
Apesar de todos os estudos com novas drogas e terapias, até o momento o resultado se resume ao controle da evolução natural da doença. Segundo a Dra. Cristina Muccioli, responsável pelo setor de pesquisas do Instituto da Visão, “os resultados preliminares são promissores, mas ainda estão no campo experimental”.
A UNIFESP e a Universidade Federal de Goiânia são os principais centros que realizaram essa pesquisa no mundo. A partir desta fase, novos centros no mundo inteiro serão envolvidos. “O Instituto da Visão continuará participando ativamente da busca pela cura dessa e de outras doenças oftalmológicas graves”, completa a Dra. Ana Luisa Höfling-Lima, professora titular e chefe do Departamento de Oftalmologia da UNIFESP.
Elenice Cruz
Assessora de Comunicação do Instituto da Visão – UNIFESP