AGÊNCIA FAPESP
Uma importante conquista na busca de cura para uma das principais causas de cegueira, a degeneração na retina, acaba de ser obtida. Um estudo que ganhou a capa da edição de 9 de novembro da revista Nature descreve o primeiro transplante bem-sucedido de células fotorreceptoras.
Em humanos, a retina é constituída por dois tipos de fotorreceptores, os bastonetes, que permitem perceber diferenças entre claro e escuro e são usados para a visão noturna, e os cones, responsáveis pela visão diurna e pela percepção de cores.
Um grupo de pesquisadores do Reino Unido, Estados Unidos e Japão implantou células fotorreceptoras na retina de camundongos adultos e cegos devido a um defeito genético. Os animais passaram a enxergar. As células transplantadas, identificadas por um marcador genético de cor verde, não apenas sobreviveram como passaram a se conectar com as células hospedeiras, integrando-se à retina dos animais.
Até então, apesar de muitas tentativas, nunca se havia conseguido um transplante de retina em que as células transplantadas se conectassem efetivamente no complexo circuito elétrico do cérebro. O novo estudo teve sucesso especialmente pela opção de introduzir fotorreceptores em um estágio específico de desenvolvimento, quando as células pararam de se dividir.
Em vez de inserir, como outros grupos fizeram anteriormente, células-tronco indiferenciadas, na esperança que essas se desenvolvessem em fotorreceptores, os pesquisadores transplantaram células em estágios mais avançados. São células conhecidas como precursoras, ou seja, imaturas e programadas para se desenvolver em fotorreceptores funcionais.
Ao usar células retiradas da retina de embriões e de camundongos recém-nascidos, os autores do estudo verificaram que as que melhor se integraram foram do segundo grupo.
Embora o estudo tenha implicações para doenças da retina que afetam milhões de pessoas, os pesquisadores ressaltam que ainda são necessários anos de trabalho com modelos animais e sistemas de cultura celular antes que transplantes do tipo possam ser experimentados em humanos.
Como próxima etapa da pesquisa, os autores pretendem focar na caracterização de mecanismos que possam gerar fotorreceptores a partir de células-tronco.
O artigo Retinal repair by transplantation of photoreceptor precursors, de Robert MacLaren e outros, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com
Agência FAPESP 09/11/2006 www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=6322